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terça-feira, 8 de junho de 2010

Fazer um sábio

John, acredito que a sua definição do aforismo é exata: tudo no mundo está em seu ponto mais alto (nos termos de cada época), principalmente a possibilidade de se completar como pessoa. É uma percepção mais completa do que a minha. No entanto, creio que você se contradiz nessa frase: "acho difícil dizer que Gracián quer distinguir entre homens que são plenamente pessoas e homens que são incompletamente pessoas", porque depois você diz: "este é o mais propício e frutífero dos momentos para alcançar a completude como pessoa". Se há que se alcançar a completude como pessoa, então existe a condição de não ter alcançado essa completude, de ser menos completo, portanto, de ser menos pessoa. Podemos concordar em tudo dizendo: há uma perfeição do ser pessoa para cada época, e ela não é dada, mas conquistada pelo esforço.

Penso que sobre esse aforismo dissemos o bastante, eu só queria por em perspectiva — antes de partir para os próximos — algumas das ideias dele. Em primeiro lugar, essa ideia de Grácian de que há uma quantidade de aperfeiçoamento para fazer um sábio, que aparentemente cresce no decorrer das épocas (assim, na época dos gregos, havia determinada quantia necessária; na de Grácian, era preciso sete vezes essa quantia para ser um sábio de envergadura análoga). Ainda não sei qual será a proposta do nosso filósofo para chegar se aperfeiçoar, mas discuti noutro artigo a visão de Condillac — quero dizer, temos nele um entendimento de como se faz um sábio, que é algo que fica meio nublado nesse primeiro aforismo. No meu texto, cito Condillac quando ele afirma que todos possuem o método para conseguir conhecimento;o bom uso dele garante sabedoria a todos.

Como estou lendo Rosseau, também quero notar que, para esse outro filósofo francês, a capacidade de aperfeiçoamento é um traço distintivo fundamental entre homens e animais. Da forma como a nota de Ensaio sobre a Origem das Línguas, na edição de Os Pensadores (1999), me informa:
"Pelo Discurso sobre a Desigualdade sabemos, primeiro que não é tanto pelo entendimento que os homens se distinguem dos animais, senão pela sua qualidade específica de homem: a capacidade de se aperfeiçoar tanto individualmente quanto como espécie. (...)"
Além disso, só ficam pra depois duas coisas: a ideologia de controle que o Rafael intuiu nesse aforismo e o conceito protestante de esforço, que o John quis falar outra hora. O Rafael também tinha citado que poderia falar de uma visão durdeana de o que é se tornar pessoa, e acho interessante que ele diga; não para entendermos o A Arte da Prudência em si, mas pelo que pode dar o comparativo, o ter as duas compreensões (essa segunda, mais contemporânea) da mesma coisa.

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